terça-feira, 30 de setembro de 2014

Blao - Mãe de brasileiro jihadista perde o controle em tribunal( Entenda a violência no Iraque)

A brasileira Rosana Rodrigues, mãe do combatente belga Brian de Mulder, que desde janeiro de 2013 luta na Síria junto ao grupo autodenominado Estado Islâmico, acusou o líder da organização islamista Sharia4Belgium de ter destruído a vida de sua família ao final do primeiro dia do julgamento do grupo por recrutamento de combatentes estrangeiros, na segunda-feira."Você arruinou nossas vidas", gritou Rosana, muito alterada, em direção a Fouad Belkacem, antes de ser retirada da sala de audiência pela polícia."Tudo o que desejo para o senhor Belkacem é que ele vá para o inferno. Se acontecer alguma coisa com Brian, vou perseguir ele (Belkacem) até a morte", disse à imprensa do lado de fora do Palácio de Justiça da Antuérpia, onde acontece o julgamento.O homem não compareceu ao tribunal na terça-feira, segundo dia do julgamento.As audiências serão reiniciadas no dia 8 de outubro com asargumentações de defesa. As sentenças serão pronunciadas no mesmo dia.

'Pai espiritual'Belkacem, 32 anos, de nacionalidade belgo-marroquina, é oprincipal acusado no que está sendo chamado de "o megaprocesso do jihad" e pode ser condenado a até 15 anos de prisão.A lista de acusados inclui 46 nomes, entre eles De Mulder, para quem o Ministério Público pede cinco anos de prisão por participação em atividades de uma organização terrorista e por publicar ameaças de ataques terroristas à Bélgica, ao ministro da Defesa, Pieter De Crem, e ao líder político holandês Geert Wilders.A maioria dos acusados, como De Mulder, está sendo julgada em sua ausência, já que continuam na Síria ou faleceram.Em entrevista à BBC Brasil, Rosana disse acreditar que o filho será inocentado e afirmou que "não há nenhuma provacontra ele".Para o Ministério Público, Belkacem era o "líder incontestável" da Sharia4Belgium e o responsável pelo recrutamento e doutrinamento religioso e ideológico de novos membros, os conduzindo à jihad na Síria.Esse papel foi confirmado por alguns dos acusados presentes no processo, jovens que estiveram na Síria combatendo junto ao Estado Islâmico ou à Frente Al Nusra, uma facção da Al Qaeda.Jejoen Bontinck, 19 anos, que voltou à Bélgica no ano passado, depois de oito meses lutando ao lado dos extremistas na Síria, assegurou ao tribunal que a influência de Belkacem foi decisiva para ele ir à guerra."Ela era meu pai espiritual. Suas lições agiam como uma seringa. Estava completamente absorvido pela organização e suas idéias. Nunca teria partido à Síria sem isso", disse.Uma testemunha que pediu anonimato, pai de três jovens que também se uniram ao combate ao lado dos extremistas, afirmou que seus filhos sofreram uma"lavagem cerebral" por parte da Sharia4Belgium.

RecrutamentoA organização, que prega a instauração da lei islâmica na Bélgica, foi fundada em 2010 por Belkacem e dissolvida oficialmente dois anos mais tarde por pressão da Polícia, mas mantém até hoje atividades na internet.As autoridades locais a consideram como principal fileira de recrutamento de combatentes belgas para a Síria.Segundo o Ministério Público, as atividades do grupo consistem na difusão de ideologia através de Internet e redes sociais, recrutamento e doutrinamento de jovens e treinamentos físicos para cometer ações violentas e participar da luta armada na Síria.Seus membros eram convocados a cinco "sessões ideológicas ou físicas" por semana, e quem faltasse era submetido a sanções, que não foram especificadas.Em entrevista concedida à BBC Brasil em julho de 2013, Rosana Rodrigues contou que mudou de cidade para tentarimpedir o filho de frequentar essas reuniões, mas outros membros da Sharia4Belgium iam buscá-lo em casa.

Entenda a violência no Iraque

O que está acontecendo?

Desde que as tropas americanas saíram do Iraque, em 2011, o grupo islâmico EI vem rapidamente ocupando cidades do país. Desde junho, já tomou Mosul, segunda maior cidade e bastião da resistência à ocupação dos EUA e aliados, e partes de Tikrit, cidade de Saddam Hussein próxima da capital Bagdá

Quem está atacando?

O EI (Estado Islâmico), um grupo islamita sunita que surgiu da união de diversos grupos que lutaram contra a ocupação do Iraque pelos EUA e que recentemente criou um califado nas áreas sob o seu controle no Iraque e no Levante (parte de Síria e Líbano). Seu principal líder foi Al-Zarqawi, morto em 2006. Hoje a liderança tem vários nomes, mas o principal é Al-Baghdadi

O que é um califado?

É uma forma de governo centrada na figura do califa, que seria um sucessor daautoridade política do profeta Maomé, com atribuições de chefe de Estado e líder político do mundo islâmico. O Estado, que seguiria rigorosamente a lei do Islã, compreenderia a região entre o mar Mediterrâneo e o rio Tigre

Qual a força do EI?

O grupo, que recebe grandes doações ocultas de dinheiro, tem milhares de militantes, inclusive "jihadistas" americanos e europeus, e se aproveita da disputa entre o governo de Maliki, apoiado pelos xiitas, e a minoria sunita para conquistar espaço. Acredita-se que seja patrocinado por governos da região. Embora seja considerado um braço da Al-Qaeda, se rebelou e foi expulso pelo líder Al-Zawahiri

Qual o papel dos EUA?

Alegando risco de genocídio, o presidente dos EUA, Barack Obama, determinou o bombardeio de áreas controladas pelos militantes do EI no norte do país. Os EUA também estão fornecendo armas e munição aos curdos para que combatam o movimento

Quem está na mira do EI?

Cerca de 50 mil membros da minoria yazidi, que estão isolados em montanhas no noroeste do Iraque, sem comida nem água, depois de terem fugido de suas casas, e cristãos, que chegaram a ser crucificados. Mulheres tem sido forçadas a se submeter à mutilação genital e usar véus cobrindo o corpo inteiro.

O Iraque pode se dividir?

Apesar de o governo central de Bagdá ainda controlar oficialmente as províncias do país, é possível que haja a fragmentação em ao menos três territórios. Isso porque a divisão do Iraque entre árabes sunitas, xiitas e curdos já está bem avançada.

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